quinta-feira, 20 de maio de 2010

O observado: familiaridade, dificuldades e o confidente

Um dilema para observar: Eu não sabia se, naquele dia, eu ia como estudante de jornalismo (com bloco de anotações, gravador, senso crítico mode on) ou somente como um visitante qualquer do Templo Fo Guan Shan. Foram mais de 40 dias para eu escolher o que eu iria observar, e durante todo esse tempo ficava imaginando o que seria mais difícil, digamos mais desafiador (porque o que alimenta a alma de um (aspirante à) jornalista são os desafios). Gogoboys, prostitutas, skatistas, Culto Evangélico, Reunião Espírita, festa num terreiro de Umbanda... E enfim, Templo Budista. Eu precisava conhecer alguém ou alguém que conhecesse outra pessoa envolvida de alguma forma no grupo escolhido para ser ponte para eu chegar onde queria.
Deixaria em casa todas as visões pré- formadas que eu tinha, mas ao mesmo tempo teria de ir com algum conhecimento básico daquilo que iria observar. Tinha muitas dúvidas, e onde levá- las, como tirá- las, se eu estava apenas visitando o local? “Pessoas orientais, calmaria, lerdeza. Zen”. Isso tudo eu imaginava que encontraria num templo budista. Mainha me disse: “Vai sozinho? Eles vão querer te converter!” E minha mãe sempre me diz para eu não julgar nada nem ninguém. Budismo é religião? Foi a minha primeira dúvida. A colega que me acompanhou, minha confidente, disse- me que era estilo de vida.
Não vou mentir, estava tenso. “Pode entrar. Fique à vontade.” Quando ouvi essa frase, fingi que estava, super, em casa, bem à vontade. Tratei logo de matar a primeira curiosidade (aquela se Budismo é religião, estilo de vida ou o quê?). A moça me deu um livrinho, que por incrível que pareça fica logo na entrada numa das estantes no grande salão cheio de mesas e livros. Entendi que é a mesma dúvida de todo mundo que não tem conhecimento algum. Aprendi que Budismo é ciência, religião e filosofia de vida. Assistir à celebração descalço, cânticos em outra língua, várias imagens (e o que elas significam?), oferendas (concretas) à elas, a Monja, as roupas, o silêncio, a interação, a concentração, a mudra (tipo o sinal da cruz), o Sutra Lótus (livrinho de ensinamentos), o Bodshisattva Avalokiteshvara (um dos budas), a meditação e o incenso. O incenso, aliás, foi a única dificuldade que me venceu. Para um alérgico, passar mais de duas horas numa sala com cerca de 40 pessoas e todas com um, era quase impossível sair de lá sem os olhos vermelhos e uma vontade gigante de espirrar. E como eu anotaria tudo? Pensei mil vezes se levaria algo para registrar. E ele, sempre ele, é meu confidente, mais que minha colega. O caderno de anotações. Contava tudo para ele e ele não tinha reação alguma. Em casa, ele me contou tudo.
Dali eu precisava sair, segundo as doutrinas dos Budas, com o coração cheio de generosidade, compaixão, alegria e equanimidade. Dessa última palavra fiz ligação direta e imediata com o Jornalismo. É sinônimo de imparcialidade e neutralidade. Não fui imparcial nem muito menos neutro, porém, estava, sim, como estudante de jornalismo (e que precisa ser “imparcial”), mesmo que camuflado de um visitante qualquer. Participei, rezei, perguntei, cantei, anotei, gravei, fotografei. Não queria perder nada.
O que a princípio seria difícil, no final tornou- se muito fácil. Não sei se porque eu me despi de todas as visões pré- formadas, ou se elas faziam sentido, de alguma forma. O respeito mútuo foi fundamental para o sucesso da observação.
Fui com pré- conceitos e saí sem preconceitos. Nada daquilo que parecia estranho era tão estranho. Na verdade, o que faltava era conhecimento, familiaridade. Tudo faz parte de um só mundo: O que vivemos. Em busca da perfeição, e, no mínimo, de paz e harmonia.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Crianças e Adolescentes

         O abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes ganha destaque no dia de hoje, 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data vai ser comemorada em Olinda com oficinas para policiais militares e profissionais de saúde do município. Os cursos de capacitação vão acontecer no Hotel Flat Quatro Rodas das 8h30 até as 12h e servirão como impulso para o enfrentamento do problema e a construção de uma agenda de trabalho para as comunidades que sofrem com o problema e já contam com a ajuda do Programa Polícia Amiga. A iniciativa é uma parceria do Programa Polícia Amiga e da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco.
        O 18 de maio foi instituído pela Lei Federal Nº 9970/00, com o propósito de incentivar a luta contra o abuso e a exploração de crianças e adolescentes nacionalmente. Pernambuco, em particular, sofre com o problema não só nas comunidades mais pobres, mas também nas belas praias. O estado tem uma rota onde aliciadores pegam os jovens e enviam para fora do país, com a intenção de serem abusados sexualmente. Tráfico de jovens seres humanos.
Desigualdade social, família desestruturada, violência, tráfico de drogas. Esta é a realidade de boa parte das vítimas. Em contrapartida a esta realidade está o aliciador abrindo as portas para um mundo que diz “se tirar a roupa ganha 5, 10 ou 15 reais”. Uma quantia dessas na mão de uma criança, de um jovem, que vivem essa realidade é muita coisa. Na falta de instrução o aliciador está lá.
        São José da Coroa Grande, Tamandaré, Porto de Galinhas, são algumas das praias mais visitadas do estado e estão na rota dos aliciadores. Essas cidades são vistas por eles como lugares de maior facilidade, já que estão localizadas perto de rodovias e saídas do estado. A problemática foi exposta no documentário Rota de Ilusões, dirigido e roteirizado pela jornalista Clara Angeiras. Com depoimentos de policiais, vítimas e profissionais de saúde, o documentário mostra as principais rotas e alguns órgãos que ajudam a prevenir e acabar com o problema.
       Pelo artigo 224, alínea “a” do Código Penal, violência e abuso sexual contra crianças e adolescentes é crime e dá cadeia.
VANESSA ANGEIRAS

sexta-feira, 14 de maio de 2010

CIGARRA URBANA


Jessé de Paula Silva, 25 anos, com formação européia em música erudita, achou, nas lotações de ônibus, uma forma de sobrevivência. Já que o estado de Pernambuco ainda é muito carente em produções e incentivo a cultura. Além dos ônibus, toca em bares e em festas, mas sua grande renda é sim nos coletivos.
Essa história toda começou como na lenda da cigarra e da formiga, Jessé, trabalhava no verão nos bares. E como todos os bares, no inverno ficavam vazios. “Eu era como a cigarra, trabalhava no verão e no inverno não tinha o que fazer... foi quando eu estava na parada de ônibus e vi que eles estavam sempre lotados.” E foi assim que começou, entrou no ônibus, pagou sua passagem, sentou-se e pegou seu violino, como se estivesse em casa, começou a tocar magistralmente no meio daquelas pessoas apressadas.
Como assim? Uma pessoa tocando MPB no violino dentro da lotação? Pode-se afirmar com certeza, é no mínimo curioso este fato. Com todas as dificuldades de transito, equilíbrio, barulho do motor, motoristas “chatos”... Jessé (violino) e seu atual companheiro de ônibus, Jal Melo (violão) não desistem de levar entretenimento e cultura para toda a população, pedindo em troca apenas uma ajuda de custo, qualquer que seja, para evoluírem no seu trabalho.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Segura senão cai

Normal da vida: todo mundo, ao menos um dia, tem de tomar um ônibus. Tomar? Estranho! Então, popularmente falando, tem de pegar um busão. Há aqueles lugares onde os coletivos são abundância, outros são raridades. Podem vir lotados ou extremamente vazios, dependendo do horário. E ainda têm locais onde os ônibus são sempre lotados, que prefiro chamar de tri-lotados.
Foi a partir desse termo o ponto- de- partida de mais uma reportagem. Era obrigação embarcar num desses ônibus enormes – articulados – mas que ficam pequenos para tanta gente. Mais de 140 pessoas num espaço onde deveriam estar no máximo, 125. E fui. Era quase impossível fazer o trabalho sozinho. A ajuda era essencial. Talvez mais importante do que as entrevistas. Eu já sabia o que me esperava. No entanto, tudo o que eu encontrava era novidade.
Acordar às 4h15. Chegar num dos terminais às 5h. A certeza era de que não estariam muitos passageiros. E o que encontrei? Filas gigantes! Os ônibus ainda desligados. E pouco a pouco os que vinham de Igarassu e Abreu e Lima passavam super- lotados. Eu estava no Terminal Integrado Pelópidas Silveira, em Paulista. Um terminal novo, mas com reclamações antigas. A única certeza que eu tinha, era de que não haveria fiscais para arrumar as filas, controlar o número de pessoas cujos ônibus deveriam transportar e evitar qualquer outro problema. Pior: eles estavam lá, mas não faziam nada disso. Só tentavam “censurar” o trabalho da imprensa. Ou melhor, tentavam esconder alguns problemas os quais os passageiros já me diziam que era frequente. E continuei lá. Visitei, aliás, outros terminais.
A tarefa mais difícil foi escolher o busão mais lotado, pra eu pegar. Escrever no bloco de anotações o que os passageiros reclamavam, gravar, filmar, fotografar... Acreditam que consegui? Diziam: “Segura senão cai!” Eu deveria ganhar um prêmio por desafiar as leis da Física: o ônibus freiava, andava, andava, freiava, e eu não saía do lugar. Graças à hiper, mega, ultra- lotação.
Na terceira viagem, outra linha, à noite, no auge do cansaço, já estava craque. Medalha de ouro pra todo mundo que consegue vencer essa luta todo dia – inclusive eu. É quase participar de um esporte radical. O mais interessante é que eu me identificava com aquelas reclamações. São as mesmas que faço quando também pego ônibus. As histórias eram familiares. Se quiser conhecer outras histórias – o que você quiser descobrir –, pegue um busão. Afinal, quem não anda de ônibus, não tem histórias pra contar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Projeto de lei Ficha Limpa: Grande avanço na ética política

Partindo da necessidade de uma política justa e eticamente correta, a sociedade e o movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) pretendem prevenir e combater a corrupção por meio do projeto de lei Ficha limpa. Concepção de lei essencialmente política. A iniciativa tem por finalidade impedir que políticos condenados em primeira instância ou por órgão colegiado (Tribunais de segunda instância) sejam eleitos. Crimes como racismo, homicídio, estupro, tráfico de drogas e desvio de verbas públicas estão entre os motivos que poderiam impedir ou impugnar uma candidatura.
Segundo o deputado Maurício Rands, o conteúdo representa a defesa do Estado contra os maus políticos, significando, dessa maneira, o aprimoramento da democracia brasileira com a participação da população. “Foram mais de um milhão e meio de assinaturas a favor desse projeto de lei, o que deixa claro o posicionamento da sociedade brasileira a favor da aprovação da mesma”, afirma o deputado. A internet está sendo um dos veículos mais importantes para a disseminação da campanha, através de sites de relacionamentos como Twitter e Facebook.
O professor Nilzardo Carneiro Leão, que faz parte do corpo docente das Faculdades Integradas Barros Melo, relatou em palestra na última sexta-feira (30), que os políticos contra o projeto de lei ficha limpa, provavelmente, são aqueles envolvidos ou que já se envolveram em algum escândalo.
As opiniões são bastante divergentes, havendo, assim, políticos que são contra o projeto de lei, querendo engavetá-lo. Porém, deputados e senadores serão pressionados, tanto pela sociedade como pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), para o cumprimento dos prazos que garantem que a lei entre em vigor ainda em 2010.
O projeto de lei Ficha Limpa foi apresentado em abril de 2008 na câmera dos deputados, em Brasília, e aguarda votação no plenário.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Homem-Bomba



Com direção de Tarcísio Lara Puiati, o curta Homem-Bomba arrastou demorados aplausos do público “crítico” do CinePe.Apesar de ser um tema bastante abordado na atualidade – o tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro – o diretor deu voz aos protagonistas proporcionando aos telespectadores uma visão infantil marginalizada pela sociedade – ou nem tanto.Foi essa a sacada.Ele precisou alterar o olhar dando brecha a milhares de interpretações.O diálogo entre dois garotos dura em média 13’ legitimando a inclusão de crianças  no controle do tráfico nas favelas do Rio de Janeiro.
A cena é feita num mesmo local – laje de uma casa no morro -, no cenário nenhuma novidade o que contrasta em muito com o embate que os atores criam no decorrer da encenação. Sem contar que o humor permeia os diálogos taxativos fazendo das falas um jogo sem meios tons. O final não poderia ser previsto de outra forma – a morte dos garotos. A única lamentação é que a produção não é Pernambucana.

Quincas,que não é o de Machado de Assis.


Quincas Berro D’Água é uma espécie de longa que você ver e ser apaixona. Se apaixona de verdade, pois não há apelo melodramático.Com direção de Sérgio Machado, o elenco exibe uma harmonia inigualável. Apesar de não concorrer a nenhum prêmio podemos dizer que a produção é digna de um. Tive a sensação de um êxtase profundo.
Com adaptação do livro de Jorge Amado, as cenas se passam numa Bahia boêmia. Quincas – personagem de Paulo José – exibe um conjunto sem pudor de um homem entregue a vida conturbada pelos conflitos de uma sociedade conservadora. E que, aliás, de conservadora não tem nada.
É comum em filme brasileiro encontrar um diálogo “cantado”, - não no sentido denotativo da palavra – mas pela maneira regional acentuada no aspecto do falar e principalmente nas características físicas encontradas na pluralidade de cada personagem.
Para os cinéfilos a primeira cena seria inevitavelmente retomada no final - um flash back. Mesmo com esse ponto de previsão o filme não deixa detalhes a serem destrinchados, ou melhor, os detalhes compõem a melhor parte. Aquele final tão esperado não existiu-deixamos para os filmes de suspense cujo vilão mata a mocinha. O previsível já era fato. O que importou realmente foi à riqueza da narrativa de Jorge Amado trazida para o audiovisual.

Nego Fugido


Escrevo sobre o curta Nego Fugido porque me incomoda. Com direção de Cláudio Marques e Marília Hughes Guerreiro a produção baiana deixou a desejar no ponto da não objetividade. Embora haja alguns que arrisquem neste sentido e correspondam as devidas expectativas – é muito delicado fazer algo fora do comum.
O texto visual nos permite entender que dois jovens decidem encarar um ritual – nego fugido- com uma câmera filmadora. A cena se passa no interior da Bahia – subentende- se pelo aspecto rural -, enquanto a pesquisadora filma toda a trajetória percorrida o seu companheiro é puxado para a cena sem pretensão pelo chefe do ritual, cujas características são bem singulares. Uma saia feita com folhas de bananeira, o rosto mascado por uma tinta preta que em conjunto com a língua pintada de vermelho dá um tom meio tenebroso. Entre a música no ritmo de candomblé e as cenas dançantes dos personagens ficamos com a testa franzida em busca por uma resposta que ficou solta no ar, ou quem sabe essa resposta nem exista. Talvez a proposta dos produtores sejam mesmo essa, Incomodar.

Livro da Semana


Para quem deseja enveredar no universo de Assis Chateaubriand - que marca o inicio do Jornalismo brasileiro.

terça-feira, 4 de maio de 2010

CinePE fora dos Padrões

Eu tinha grande expectativa para a noite de quinta – feira. O CinePE estava recebendo ótimas criticas, os filmes estavam muito bem escolhidos e eu não poderia perder a oportunidade de um evento cultural de qualidade em nosso estado, que é marcado por shows de banda de forró, axé e brega. Não que isso seja ruim para a grande massa, mas sinceramente, não me agrada nem um pouco.
Chegando lá, estacionamento lotado, pessoas chegando, conversando, tirando fotos, gente nova, adultos e crianças. Espera... crianças? O que todos aqueles meninos e meninas com roupas multicoloridas, que nem chegaram ao ginásio, estavam fazendo ali, naquela hora da noite? Como se uma voz viesse do além surge à resposta: Fiuk, a nova sensação do público adolescente possivelmente estaria ali, naquela noite, no mesmo lugar que eu.
Só iria piorar se João do Morro estivesse na fila para entrar, com uma loira coberta por uma “toalha de rosto”, e seguido por seus fãs. Ai não! Juro que não penso mais nessas bizarrices, elas se tornam verdade. Ele realmente estava lá, a poucos metros de mim, e sim, com a loira coberta pela “toalha de rosto”, e seus fãs? Não vou nem comentar. Estavam todos montados no brilho, na chapinha e no bonezinho de lado, estilo rapper americano.
Mas calma, tudo vai passar quando as luzes do teatro se apagarem, e começar o filme. E assim se fez, as luzes apagaram, e deu início aos curtas. “Do morro?” foi o primeiro, para abrir a noite. Entre depoimentos de figuras importantes para a música pernambucana, conversas com João do morro e flashes de seus shows, eis que surge outra voz do além, para falar a verdade não era bem do alem, era de um dos fãs que estava em pé, bem atrás da ultima fileira. “ Jeycelane, ó tu ali dançando no filme!”
É... o CinePE realmente não é o mesmo...



Jéssica Machado