quarta-feira, 12 de maio de 2010

Segura senão cai

Normal da vida: todo mundo, ao menos um dia, tem de tomar um ônibus. Tomar? Estranho! Então, popularmente falando, tem de pegar um busão. Há aqueles lugares onde os coletivos são abundância, outros são raridades. Podem vir lotados ou extremamente vazios, dependendo do horário. E ainda têm locais onde os ônibus são sempre lotados, que prefiro chamar de tri-lotados.
Foi a partir desse termo o ponto- de- partida de mais uma reportagem. Era obrigação embarcar num desses ônibus enormes – articulados – mas que ficam pequenos para tanta gente. Mais de 140 pessoas num espaço onde deveriam estar no máximo, 125. E fui. Era quase impossível fazer o trabalho sozinho. A ajuda era essencial. Talvez mais importante do que as entrevistas. Eu já sabia o que me esperava. No entanto, tudo o que eu encontrava era novidade.
Acordar às 4h15. Chegar num dos terminais às 5h. A certeza era de que não estariam muitos passageiros. E o que encontrei? Filas gigantes! Os ônibus ainda desligados. E pouco a pouco os que vinham de Igarassu e Abreu e Lima passavam super- lotados. Eu estava no Terminal Integrado Pelópidas Silveira, em Paulista. Um terminal novo, mas com reclamações antigas. A única certeza que eu tinha, era de que não haveria fiscais para arrumar as filas, controlar o número de pessoas cujos ônibus deveriam transportar e evitar qualquer outro problema. Pior: eles estavam lá, mas não faziam nada disso. Só tentavam “censurar” o trabalho da imprensa. Ou melhor, tentavam esconder alguns problemas os quais os passageiros já me diziam que era frequente. E continuei lá. Visitei, aliás, outros terminais.
A tarefa mais difícil foi escolher o busão mais lotado, pra eu pegar. Escrever no bloco de anotações o que os passageiros reclamavam, gravar, filmar, fotografar... Acreditam que consegui? Diziam: “Segura senão cai!” Eu deveria ganhar um prêmio por desafiar as leis da Física: o ônibus freiava, andava, andava, freiava, e eu não saía do lugar. Graças à hiper, mega, ultra- lotação.
Na terceira viagem, outra linha, à noite, no auge do cansaço, já estava craque. Medalha de ouro pra todo mundo que consegue vencer essa luta todo dia – inclusive eu. É quase participar de um esporte radical. O mais interessante é que eu me identificava com aquelas reclamações. São as mesmas que faço quando também pego ônibus. As histórias eram familiares. Se quiser conhecer outras histórias – o que você quiser descobrir –, pegue um busão. Afinal, quem não anda de ônibus, não tem histórias pra contar.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto Júnior!!! Mais uma vez admiro você pela paixão que você tem no que faz. Sucesso.
    Tiago (Joinville - Santa Catarina)

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